sexta-feira, 29 de abril de 2011

A pessoa mais amigável que você viu apenas uma vez

"Cause to stand up, out in the crowd you are one in a million."

Estou trapaceando, pois na verdade já te vi três vezes. Na primeira, fomos brevemente apresentados. Na segunda, você passou por mim no metrô, na hora do rush, correndo, muito sério e abatido. Na terceira, eu estava dentro de um bar na Augusta e você desceu a rua. Fora isso, umas conversinhas de twitter, alguns e-mails e aquele seu blog adorável.

Já te disse isso, mas repito que você é daquelas pessoas que emanam tranqüilidade, gentileza e todo tipo de coisa boa. Não dá pra explicar a mecânica disso, mas até em fotos dá pra perceber uma leveza, um "fica assim, não, que já passa". Sei que você sabe do que estou falando.

Chamo gente como você de pessoas terapêuticas. Bem brega dizer isso, mas esse tipo de pessoa é como um atestado perpétuo de esperança. Gente assim é muito necessária, portanto, favor procriar, que eu tô sabendo que a sua senhora é da mesma estirpe rara.

Abraço.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dia 6 - Alguém da minha infância

"I hate that sadness in your eyes."

Minha mãe tem como uma das (infinitas) máculas da minha educação infantil o fato de não ter conseguido me convencer a chamar os mais velhos de senhor e senhora. Criatura insuportável desde sempre, nas lembranças mais antigas me vejo tendo problemas com ritos e autoridades pré-estabelecidas. Tanto o meu respeito quanto a minha obediência dependiam de que os adultos tivessem o saco de explicar em pormenores por que eu precisava agir de determinado modo. O questionamento incessante pode até ser sinal de inteligência numa criança, mas o meu ultrapassava os limites do suportável e, na certeza de que aqui se faz, aqui se paga, reitero minha decisão de não procriar sob pena de que a genética iniludível me confronte com uma pequena versão de mim e eu a afogue na privada.

Acontece que você eu chamava de senhora (e já não chamo, porque aprender não é meu forte) quando minha mãe já havia desistido de me incutir o hábito. O respeito foi quase imediato, pois nem sua rabugice nem sua falta de tato com crianças conseguiram enganar um faro que sempre me foi apurado: o de descobrir boas essências, mesmo quando as impressões fossem contrárias.

Você era pequena e esquelética, sua pele era queimada daquele sol maldito da serra e a única coisa que chamava a atenção eram seus olhos: enormes no rosto encovado, espantosamente verdes. Conversar com você era uma desculpa para ficar observando o absurdo da cor daqueles olhos que, fossem meus, me fariam passar horas na frente do espelho.

Seus olhos eram tristes, mas ao contrário de todo o resto de você, também eram altivos. Algo do meu respeito por você era pena dos vestidos velhos, dos lábios sem carne e de, tão velha, você precisar trabalhar limpando a casa dos outros e sentir esse dó me causava vergonha. Porque a despeito de ser uma velha raquítica, você trabalhava com afinco que denunciava uma força vinda do desconhecido, uma força repleta duma dignidade inquebrantável, que eximia quem quer que fosse de sentir pena. Essa força e sua serenidade me ganharam e o respeito fazia com que eu me envergonhasse de ter dó: não é correto se penalizar de quem não sente pena de si mesmo.

Essas idéias eram pequenas e esparsas na minha cabeça de criança e tudo o que eu podia fazer, em razão do meu respeito, era procurar ser menos atentada. Foi, então, uma era de relativa paz a época em que você trabalhou na minha casa, se excetuarmos o episódio em que eu tentei fazer a maior bolha do mundo com um cano de PVC e me intoxiquei com detergente.

Espero que você esteja bem.

P.S.: Valeu por não contar pra minha mãe sobre aquela vez em que eu te roubei um cigarro e quase asfixiei tentando tragar. Não sei se a omissão foi pra salvar a sua pele ou a minha, mas obrigada assim mesmo.

P.P.S.: Pensando agora, acho que meu plano de ser menos atentada não foi bem-sucedido.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dia 5 - A última pessoa que eu beijei

“It's a cold and it's a broken hallelujah.”

Nosso primeiro encontro foi às cegas. Assim, às cegas naquelas, que dar um google fu em você não é infrutífero e tinha uma foto minha lá no blog. Uma tarde inteira de e-mails estranhos, sérios, você falando sobre raiva, mentira, a falta de sutileza de tigres em de shoppings e sobre cada mão ser única. Eu, por outro lado, me valendo de todos os meus três anos mentais e te ensinando expressões como “charme derrubador de calcinhas”. L’esprit de l’escalier gritando fundo a cada toque no botão de enviar e não demorou nem três horas pra gente não se aguentar e marcar um encontro, naquele mesmo dia. Meu nariz é feio, meu cabelo tá escroto, minha calça tá manchada, eu tenho um sotaque bizarro, todo um controle de expectativas dos dois lados. Não podia dar certo ao vivo como estava dando na troca de e-mails.

E não deu. Fui pra casa tentando encontrar uma unidade de medida que cambiasse seu ego num tamanho que me fosse inteligível e você foi fazendo a mesma coisa com a minha arrogância. E com o meu desleixo. E com a minha chatice. E ai, que inferno, que fracasso. Olha pra mim no dia seguinte te mandando o e-mail mais imbecil do mundo. Olha pra você respondendo e a gente saindo de novo. Olha pra mim prevendo seus passos, você se deixando prever e olha pra mim caindo numa teia que você nem tinha engendrado direito e olha pra gente bebendo cerveja — e eu nem bebo cerveja — e a gente tendo DR antes do primeiro beijo. E o primeiro beijo. Olha, não tenho memória pra esse tipo de coisa, mas aquele ali, taquipa, não sei se foi pra impressionar, não sei se foi Petrobrás, o nosso desafio é a sua energia; só sei que eu não estava assim tão empolgante naquela noite, então o que foi aquilo?

É l’esprit de l’escalier. Sempre. O tempo inteiro. Devia dar pra dizer tudo de uma vez e do jeito certo. Mentira. Devia não, que ia acabar. Sigamos na cruzada pelos piores nomes de e-mails de todos os tempos.

Sinto falta de toda a tranqueira na TV, de assistir UFC e de resolver no meio da noite que odeiovocêsaidaqui. Estou com saudade do WTF contínuo, do nariz enrugadinho, tô até sentindo falta da sua expressão incrédula invariavelmente seguida de “mas tu é chata pacaralho!”. Ê, Stark, tu és chato pacaralho também. E eu gosto. Credo.

Te cuida.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dia 4 - Uma pessoa falecida com quem eu gostaria de poder conversar

"Meu Deus, como serei feliz quando esta teoria tiver acabado e eu, enfim, puder descansar."

Caro Charles Darwin;

Indo direto ao assunto, sua teoria me é muito estranha. Sei que não devo ser emocional, sei que você andou dizendo que um verdadeiro cientista precisa ter um coração de pedra, mas não me conformo com a parte que diz que a evolução nem sempre advém de características necessariamente positivas. A gente tem essa visão bonita de evolução, de caminhar sempre pra frente e "vem vamos embora, que esperar não é fazer", então o senhor tente, por delicadeza, dimensionar o tamanho do meu choque ao perceber que não é bem assim que o mundo gira. Eu sou só uma mocinha, só uma menina, meu ceticismo não está maduro o bastante para receber esse tipo de informação, sorrir como que dizendo "elementar, elementar" e ajeitar o monóculo enquanto fumo meu cachimbo. Eu não uso um terno de flanela bem cortado, não ocupo uma sala em Oxford, não escrevo para a Nature e nem gero editoriais da Science. Sou, como já disse, uma dessas mocinhas crédulas que insistem em querer acreditar no bem maior, na bondade do coração humano e em todas essas bobagens que as mães deveriam, por força da lei, exterminar do coração das crianças antes dos dez anos de idade. Creia-me: os divãs dos psicanalistas estariam bem menos ocupados e poderia ter sido que seu colega de ciência (-not), aquele serelepe do Sigmund, nem tivesse virado hype, não é mesmo?

Mas, voltando, depois de perceber essa parte nada alegre de vossa teoria, não tenho podido dormir, tenho chegado até aos pesadelos, pois percebo que sou uma evidência de que há quem ou o que evolua para pior. Digo, de certa forma, não é? O ponto é que tendo, com minha dileta progenitora, um acalorado debate intelectual, conhecido aqui pelas minhas terras como arranca-rabo, percebi que herdei, tanto do lado paterno como do lado materno, as piores características feno e genotípicas. Não, não vou irritar o senhor com reclamações acerca do formato do meu nariz, não se preocupe. Mas para dar um toque místico à minha carta, acho que poderia fazer aqui uma analogia e dizer que se trata de uma espécie de karma genético que está culminando nessa minha encarnação, porque na próxima é certeza que vou nascer no mínimo princesa de uma família real decandente, assim, pra compensar.

Sobre o que há de ruim em mim, de mamãe me vieram uma cabeça dura feito adamantium; uma inocência que beira o retardo mental (plus uma antitética desconfiança de tudo e de todos que me leva à criação dos mais variados e desconexos silogismos); e uma dificuldade magistral de tirar os olhos do meu umbigo. De papai herdei um racionalismo que vem com um sorrisinho de canto de boca, daqueles que fazem qualquer interlocutor, até uma velhinha com um carrinho de feira, desejar quebrar todos os dentes da minha boca d'um só golpe; uma mania desgraçada de achar que todo mundo entende que o caminho mais lógico é sempre o melhor e que eu não estou dizendo isso por falta de tato ou consideração, mas porque, caralho (desculpa, seu Darwin, saiu sem querer), é lógico! De papai veio também o hábito de ficar quieta, séria e calada quando deveria matar pessoas com lança-chamas, rir igual ao Coringa e gritar aos sete ventos mandando uma dúzia de filhos de uma mulher de vida fácil irem tomar em seus respectivos orifícios inferiolombares.

Agora, Darwin, querido, diz pra mim: sou ou não sou uma involução? Tenho me desesperado com essa idéia. Tem que ver isso aí. Ajuda eu, moço.

RSVP.

domingo, 5 de setembro de 2010

Dia 3 – Alguém que te importuna de um modo bom ou ruim

"Good wombs hath borne bad sons"

Primeiro, querida, você precisa entender que não é rancor (ia ter rancor do quê?), não é inveja, não é trollagem, não é bullying, não é uma tentativa de sabotar sua futura carreira literária. É só que me importuna, mesmo, a idéia de que você não compreenda aquela frase de que você tanto gosta, aquele poema que você cita o tempo inteiro e em todo lugar.

Sabe o Flaubert, da Madame Bovary? Então. Ele tinha esse desespero tão forte, mas tão forte que chegava a ponto de impedi-lo de criar. Ele tinha todas as nuances do romance planejadas, mas não conseguia colocar no papel as idéias assim como elas lhe iam na mente. Dizem que ele teve umas crises horrorosas, nas quais duvidava a sério de seu talento e saía rasgando os originais do romance em milhões de pedacinhos, para depois tentar remontá-los às lágrimas, sendo o backup apenas um sonho de ficção científica muito distante daquela realidade.

Tem um outro livro aí de Flaubert, não lembro qual, e ele deve ter feito o mesmo escândalo na hora de escrever, imagino. Quando Flaubert finalmente sossegou a periquita e deu por finda a escritura desse outro romance, menos famoso que o da piriguete caipira, ele chamou dois amiguinhos de muita confiança e consideração e gastou um absurdo de horas fodendo a garganta para ler em voz alta pra eles a primeira versão de sua história. Os coleguinhas de Flaubert eram aquele tipo de amigo sincero que diz que se você for mesmo sair com essa calça de malha com a blusa por dentro, não vai nem na esquina com você. Os dois descascaram o livro de cima a baixo, viraram pro mano Gustave e disseram: “Dude, de boa, cê vai ter que mexer nesse negócio aí tudo de novo”. E Flaubert fez o quê? Primeiro, como manda o figurino de quem tá acabando de sair do Romantismo como quem sai do banho ainda meio molhado, claro que ele deve ter deitado no chão e se rasgado todinho. Não posso garantir que ele tenha tentado pular do Torre Eiffel, porque nem sei se ela já estava lá e, convenhamos, seria deselegantemente freudiano. O ponto é que Flaubert pode até ter se dado ao luxo de um ataque de pelancas, mas depois se recompôs e reescreveu tudinho, levando em consideração os comentários dos amigos. Gustave fucking Flaubert, que escreveu Madame fucking (HEIN, HEIN, PEGOU? HEIN?) Bovary.

Agora, minha pergunta: se Flaubert se dispunha a permitir que criticassem seu trabalho, por que tem gente que está começando a caminhar e não deixa? Você provavelmente dirá que Flaubert não era Flaubert naquela época, mas, ó, tenho quase certeza que ele tinha consciência de não ser pouca merda, que daria ao menos uma fossa de bom tamanho. Nem me ocuparei de entrar no mérito da questão da crítica construtiva, todo mundo que tem CNTP de bom senso sabe diferenciar uma opinião que vai te levar a algum lugar de um mero “putz, isso tá uma bosta”. E vamos conversar que muitas vezes a gente sabe que putz, isso tá uma bosta, mas não deixamos de nos eriçar todinhos quando alguém tem os colhões de verbalizar. Toda uma vibe “ah, eu posso criticar a mim mesmo, você não.” Oi? Certo, perfeccionismo é algo que até trava certas pessoas (embora na maior parte das vezes se trate mais de uma desculpa para a procrastinação), mas a auto-crítica jamais será uma ferramenta perfeita. Não que qualquer opinião de qualquer pessoa sobre qualquer coisa deva ser levada em consideração. A minha idéia é que a reação de alguém que escreve frente a uma crítica deveria ter mais a ver com o embasamento da opinião de quem a profere que com o teor da crítica. Aliás, me expresso mal. O que quero dizer é que nem toda crítica é feita a esmo, com maldade e que sempre me espanto com a reação de choque de quem recebe um comentário e se magoa, imaginando que críticas não são merecidas porque, ó, escrevi isso aqui e veio do coração. Às vezes o que vem do coração também é uó, gente, não me venham com esse puritanismo criativo.

A sensação de receber um comentário elogioso é boa, mas não restam dúvidas de que um comentário elogioso sincero amplifica enormemente o efeito de se receber uma boa apreciação. E quando eu falo de um comentário elogioso sincero, não digo só da parte de quem elogia, mas também da parte de quem recebe o elogio, que sabe que o texto é realmente bom. E entenda que não é porque você colocou sangue, suor, sêmen e lágrimas que vai estar danado de bom. As coisas não são assim.

Não são poucas as vezes em que a necessidade de escrever é confundida com amor pelo ato da escrita. A necessidade de escrever é aquilo que te livra de idéias que são como minhocas cavando túneis dentro do seu cérebro dia após dia; não se trata de amor, se trata de libertação. E eu não lembro de alguma vez na vida ter recebido elogios por ter, sei lá, ficado muito bêbada e vomitado no final da noite. Amor pela escrita é vomitar e depois ter coragem de ir lá remexer naquilo que você sabe que ainda é vômito, até que vire outra coisa de cheiro mais apreciável. O que merece elogio não é a escrita escarrada, é a escrita lapidada e pensada.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dia 2 - Seus pais

“Filhos são o demo
Melhor não tê-los...”

Caros genitores;

Vocês dois não têm jeito. Uma costurando com todo cuidado de um lado, pontos pequenininhos, caprichados, só pro outro ir puxando a linha, que não tinha nó no final, por debaixo do pano. Ela tentando passar a colher da minha mãozinha esquerda para a direita, ele impedindo e dizendo que queria ter filha sinistra. Ela me mandando ir pedir a benção pro papai antes de dormir. “Bença, pai”, e ele dizendo que bença coisa nenhuma, o lance era live long and prosper e me ensinando sinais de trekkers. Toda uma guerra religiosa dentro de casa, ela me mandando coroar Nossa Senhora vestida de anjinho e me ensinando todas as orações católicas enquanto ele enchia a casa de hannukah’s, me dizia que dali em diante eu precisaria respeitar o shabath, que teríamos um natal a mais, o pessach, e me comprando (dinheiro, livrinhos, pirulitos) para que eu virasse para o lado dele. Ela tentando me fazer parar de comer sal, ele me ensinando a beber cerveja que nem homem. Ela dizendo que eu ia ganhar uma irmãzinha pra brincar comigo, ele avisando que o bebê ia era roubar a minha herança. Ela colocando os livros do Jorge Amado, cheios de figuras meio obscenas na última prateleira da estante (que, foda-se, eu escalava), ele me deixando ver livremente as Playboys que assinava e me dando O Nome da Rosa para ler aos nove anos de idade. Ela falando em perdão e no próximo, ele me incitando a foder com a vida de quem quer que fosse antes que puxassem meu tapetinho cor-de-rosa. Ela tentando impedir meu primeiro namoro sério por todas as vias, ele dizendo que bastava que eu não aparecesse grávida em casa, que ele não ia criar filho dos outros. Ela se vestindo de vermelho e preto e jogando um xale por cima dos ombros pro jantar em família e ele gritando que ela tava igualzinha ao Vingador e fazendo todo mundo cair da cadeira de tanto rir.

Nunca voltei a presenciar uma divisão de tarefas tão bem organizada ou que tenha dado frutos tão bons. Ou não.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dia 1 – Seu melhor amigo

“Anyway the wind blows”

Eu ainda me lembro da porcaria da sua primeira abordagem. Chegou na minha carteira, viu um caderninho do Pikachu, colocou o melhor olhar blasé e perguntou se eu gostava de Pokémon. Eu já tinha visto seu fichário do Harry Potter, notado seu cabelinho partido de lado e não havia jeito de não sentir seu perfume que recendia pela sala inteira. Veredicto? Veado fresco da porra. Acontece que quando eu tinha quatorze anos, veado fresco da porra era positivíssimo (vide aquela criatura por quem eu fui me apaixonar-meu-deus-pro-resto-da-vida no segundo semestre).

— Gosto não. É que eu não tinha dinheiro pra comprar outro caderno.

Cabei com sua raça, você tinha a coleção completa dos pokémons que vinham no guaraná, aquele gameboy com todos os cartuchos e até uma pokeagenda. Não me lembro do jogo de cintura que você usou pra permanecer entabulando conversa, mas no dia seguinte eu estava sentada na sua sala de TV com um monte de moleques assistindo Tomb Raider e virou meio que amor pra vida inteira. Melhores amigos acidentais, melhores amigos involuntários.

Naquele ano, a gente não passou um único mês sem brigar e se jurar de morte. Quer dizer, você brigava, né, eu mudava minha carteira pro fundo da sala, socializava com alguém que não fosse o Adílson e ficava esperando você crescer e deixar de ser retardado mental. Teve escândalo, teve professor me dispensando do resto das aulas e dizendo na frente da sala inteira que eu não tinha condições emocionais de assistir aula, teve mãe tendo que visitar a outra pra resolver aquela palhaçada, foi uma confusão. Você arruinou minha oitava série, e acabou virando meu melhor amigo.

Melhorou horrores com os anos. Agora tem as melhores piadas sobre filmes e músicas, as SMSs mais engraçadas do mundo e uma finesse que jamais conseguirei imitar. E vai virar psicólogo, quando, de acordo com todos os meus prognósticos, deveria ser jornalista. Ainda sou contra permitirem que pessoas emocionalmente frágeis se consultem com você, mas, a vida não é o que se pode chamar de correta. Primeira ironia sua com a adolescente bulímica vai dar merda, é só isso que eu aviso. Ou então você será o mais respeitado dos profissionais que se vale de tratamento de choque. Das duas, uma.

Eu ainda tenho aquele Vulpix que você jogou no meu decote no final do ano, pra depois comentar que ele devia estar achando a vida a coisa mais boa do mundo. Dando tudo errado, a gente vai pro sul do país morar numa cabana com todos os consoles de mundo e wi-fi. Deal.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Devolva-me

Trabalharemos seguindo a ordem, nada de nomes, só apelidos ou iniciais, as últimas verdadeiras. Aliás, quem se reconhecer pela inicial ganha um brinde: a carta escrita à mão, em envelope, enviada pelo correio e tudo, como manda o figurino.

Alea jacta est
.

Dia 1 – Meu melhor amigo
Dia 2 – Meus pais
Dia 3 – Alguém que me importuna de um jeito bom ou ruim
Dia 4 – Uma pessoa falecida com quem eu gostaria de poder conversar
Dia 5 – A última pessoa que eu beijei
Dia 6 – Alguém da sua infância
Dia 7 – A pessoa mais amigável que eu conheci por apenas um dia
Dia 8 – Meu amigo favorito da internet
Dia 9 – Alguém que eu gostaria de poder encontrar
Dia 10 – Alguém com quem eu não falo tanto quanto gostaria
Dia 11 – Meu irmão (ou um parente próximo)
Dia 12 – Alguém que me causou uma baita dor
Dia 13 – Alguém que eu gostaria que pudesse me perdoar
Dia 14 – Alguém de quem eu fui afastada
Dia 15 – A pessoa de quem eu mais sinto falta
Dia 16 – Alguém que não esteja no meu estado/país
Dia 17 – Um estranho
Dia 18 – A pessoa que eu gostaria de ser
Dia 19 – Alguém por que eu tenha uma quedinha
Dia 20 – Aquele que quebrou meu coração da pior forma
Dia 21 – Alguém que eu julguei pela primeira impressão
Dia 22 – Alguém a quem eu gostaria de dar uma segunda chance
Dia 23 – Meus sonhos
Dia 24 – A pessoa que me deu minha memória favorita
Dia 25 – A pessoa que está passando pelo pior dos momentos
Dia 26 – A última pessoa para quem eu fiz uma promessa
Dia 27 – Meu ex-namorado/amor
Dia 28 – Alguém que mudou minha vida
Dia 29 – A pessoa a quem eu gostaria de contar tudo, mas tenho medo
Dia 30 – Meu reflexo no espelho

Louis comendo ratos

Daí que tá todo mundo trabalhando no tal projetinho de cartas. Don’t touch my moleskine ligou e pediu a vibe de volta. Vi na May e fiquei toda me roendo nas inveja pensando que a idéia era dela e que plagiar seria descaramento e sem-vergonhice desnecessária, já que esse tipo de coisa nem combina com o que eu costumo escrever. Depois descobri que o projeto não era só dela, que meio mundo estava fazendo junto e passei a achar BARANGO, que eu sou arrogante. Acontece que além de ser arrogante eu sou brega, então resolvi escrever também porque tenho estado de birra com o They see me rollin’ nos últimos tempos; minha vontade de escrever parece que caiu do pau-de-arara no caminho pra São Paulo.

Já tenho umas cartas prontas e desestabilizarei o projeto emocionalmente uma vez que estão escrevendo uns negócios comportados e diminutos e é lógico que eu escrevi TRATADOS repletos da minha já decantada falta de tato.

O que teremos por aqui é muita sinestesia, muita vergonha alheia e parágrafos imensos e entediantes. É que eu sou ridícula por natureza, gente, eu sou o Louis comendo ratos.
 

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